Conheça um pouco sobre o jornalista Waldir Azevedo Braga



MORREU WALDIR AZEVEDO BRAGA
29/06/1928 --- 12/02/2019
Por Edmilson Sanches


Fico sabendo, por intermédio do colega Josué Almeida Moura, que mais um homem de Imprensa vira, por morte, notícia.
O jornalismo sul-maranhense está de luto. Morreu na tarde desta terça-feira, 12 de fevereiro de 2019, Waldir Azevedo Braga. Nascido em 29 de junho de 1928, tinha 90 anos, 7 meses e 12 dias.

Conheci de perto Waldir Braga. Era membro da Academia Imperatrizense de Letras, entidade que eu fundei em abril de 1991. Era fundador da Cadeira 22, que tem como patronesse a professora e escritora Carlota Carvalho, de Riachão (MA).

Algumas vezes fui recebido em sua residência, em Carolina (MA), município que é sua terra natal. Preparado gentilmente por sua esposa, lá tomei à farta o suco dos frutos da bacaba, palmeira amazônica que é "parente" próxima do açaí e da juçara. Waldir levava-me à redação de seu jornal, "Folha do Maranhão do Sul", publicação que foi uma ampliação dos encartes "Folha do Sertão", que circulava no "Folha da Cidade", periódico de levou notícias, opinião e denúncias e deixou marcas -- positivas -- na História do jornalismo imperatrizense e regional.

Waldir Azevedo Braga, tendo superado as nove décadas de vida, acumulou experiências várias no Jornalismo, na Política, na Administração Pública, na Educação e na Economia.

No Jornalismo, foi repórter do "Tribuna Popular", jornal fundado no Rio de Janeiro (RJ) e que circulou em meados dos anos 1940; nele estiveram nomes como Álvaro Moreira, Dalcídio Jurandir e Carlos Drummond de Andrade, que também faziam parte da direção coletiva da publicação. Ainda no Rio de Janeiro, Waldir Braga colaborou com o "Suplemento Literário" e com o "Jornal de Debates", este que foi publicado nas décadas de 1940 e 1950. Versátil, Waldir escrevia de comentários políticos a textos literários (crônicas, contos, poesias). No Maranhão, escreveu em jornais de sua terra, como a "Tribuna de Carolina" e "A Tarde" e, depois, em seu próprio jornal, "Folha do Maranhão do Sul" (dirigiu ainda "A Tarde"). Escreveu em "O Progresso", diário de Imperatriz (MA).

Na Política e Administração Pública, Waldir Braga foi vereador nas décadas de 1980 e 1990, tendo exercido a presidência da Câmara Municipal de Carolina. Exerceu também a chefia de Gabinete e do Departamento Municipal de Estradas de Rodagem (DMER), além de ter sido secretário de Educação.

Na Educação, Waldir Braga fundou o Colégio Comercial de Carolina, junto com Luís de Almeida Teles, que foi juiz de Direito e juiz Eleitoral naquele município. Luís Teles, nascido no Ceará, em São Luís do Curu e formado em Direito no Maranhão em 1959, foi meu professor no Ensino Médio, acho que da disciplina "OSPB - Organização Social e Política do Brasil"; dizia que estava preparado para responder sobre a 2ª Guerra Mundial no programa "8 ou 800", da TV Globo, apresentado por Paulo Gracindo. Luís Teles, após aposentar-se desembargador, foi notícia nacional, em agosto de 2013, por ter sido contratado como um dos advogados do traficante Luís Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-mar. Em Carolina, Waldir Braga foi o primeiro presidente da CNEG, a Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, um movimento brasileiro com participação de voluntários, da década de 1950, que ofertava Ensino Secundário (Ensino Médio) para a população carente nas diferentes localidades brasileiras.


Na Economia, foi comerciante e, depois, pecuarista. Presidiu a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Carolina (1964/1966).

Waldir Braga se expunha; falava o que pensava e defendia o que falava. Era enérgico, mas também sabia ser risonho e afável, voz baixa. Sua prática jornalística e retórica me lembram os substantivos coragem, intrepidez, atrevimento, impetuosidade, denodo. Escrevia os editoriais de sua "Folha" e ali imaginava redimir as mínimas concessões que, como veículo comercial, o jornal tinha de fazer. Fui notícia em seu jornal e, a seu convite, colaborei um pouco nele. Waldir me pedia opinião sincera sobre seus posicionamentos nos editoriais e o conflito, por exemplo, com notícias ou cobertura de empreendimentos vultosos de forte impacto ambiental na região. Ele, jeito matreiro, sorria, sem responder, quando lembrava o que eu uma vez disse: manifestar ideias e ideais "progressistas", ideológicos, nos editoriais enquanto se abriam os demais espaços do jornal à "sobrevivência" parecia o caso da pessoa que, no lenocínio, reservava a boca como parte intocável ("sem beijo") mas "liberava" as demais partes do corpo para a saciedade.

Na Academia Imperatrizense de Letras (AIL), não importavam as razões e evidências, Waldir Braga nunca aceitou que se pusesse em dúvida sobre a autoria do muito citado livro "O Sertão", de Carlota Carvalho. Às vezes ocorriam acirrados debates, com diversos acadêmicos expondo que, na verdade, a obra fora escrita por João Parsondas de Carvalho, escritor, empreendedor, desbravador da hinterlândia maranhense-tocantinense-goiana-paraense-amazonense... Intelectual, bom orador, palestrante em grandes cenários, inclusive no Congresso Nacional, Parsondas apenas teria, em um gesto pessoal, íntimo, atribuído a autoria para sua irmã Carlota, um procedimento que, naquela primeira metade da década de 1920, já tinha sido usado por autores brasileiros e, mais antecedentemente, por escritores estrangeiros, como Prosper Mérimée (1803--1870), historiador, arqueólogo e político (senador) francês, que se tornou célebre por ser autor do conto que resultou na ópera "Carmen", de Georges Bizet. Esse procedimento chama-se "alonímia", que é publicar uma obra sob o nome de outra pessoa. Os alônimos são apenas uma das formas (criptônimos, heterônimos, pseudônimos, metonomásias, inicialismos, aristônimos, prosônimos etc.) ditas delusórias de autores disfarçarem ou ocultarem a autoria, como estudou em livro Humberto Mello Nóbrega. (Meu amigo Waldir não ficou sabendo que, nas pesquisas que fiz, consegui testemunhos manuscritos e descobri que, em obra de 1957, o escritor maranhense Antônio Lopes registra acerca do "belo livro que [João Parsondas], sob o nome de sua irmã Carlota Carvalho publicou com o título 'O Sertão'". Esse registro só poderia ter sido feito pelo historiador vianense se ouvido do próprio Parsondas, nas conversas que ele mantinha com intelectuais em São Luís).

Waldir Braga parecia ser infatigável. O homem andava muito. Não parecia perceber que carregava fardos e fardos de décadas de vida nos ombros. Ele me lembrava um outro ambulante do jornalismo, que conheci, Vítor Gonçalves Neto, a quem na minoridade conheci e com quem colaborei -- como colunista, articulista, poeta, redator noticiarista -- no jornal "O Pioneiro", de caxias (MA), minha terra natal.

Waldir Braga e Vítor Gonçalves Neto são daqueles jornalistas que se enquadraram direitinho na definição de "legman", um repórter que reúne informações no local dos eventos ("a news reporter who gathers information at the scene of events"). Aqueles homens caminhavam, grande parte das vezes por vários municípios e estados. Eram "globe-trotters" em escala regional.

Em 2011, e também em 2012, Waldir Azevedo Braga pediu que eu escrevesse prefácio (veja em outra postagem) para seu livro "20 Anos Que Mudaram o Mundo", que ele publicou e reeditou naqueles dois anos, com cerca de 450 páginas. Seu irmão, Ulisses Azevedo Braga, advogado, pensador e escritor, falecido em 29/01/2011, também me pedira colaboração em três de seus livros publicados -- "Neocapitalismo Social", "Carta Urgente - Da Revolta à Utopia Brasil" e "Celecino - Não Estamos Sós".

De tanto andar, de tanto fadigar-se escrevendo, falando, brigando, o mínimo razoável é torcer para que Waldir Braga se aquiete lá pelos Céus...


E que seus textos (muitos), seus esforços e realizações, após morrer-lhes o autor, não venham a desaparecer também sob o peso -- voluntário ou não -- do esquecimento, da obscuridade ou, pior, da desconsideração e desrespeito.

Quer seja em livro, em jornais, na ação política, administrativa, sociocomunitária, educativa, econômica, a obra de Waldir Azevedo Braga não foi enterrada com ele.

Que ela, de alguma forma, em Carolina, no Maranhão ou onde couber, renasça nas leituras, nas pesquisas, nas conversas...

Descanse em paz, Velho Guerreiro do Jornalismo.

EDMILSON SANCHES
edmilsonsanches@uol.com.br

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